Nos últimos anos, a indústria da música sofreu uma reviravolta em decorrência do surgimento de novas tecnologias que alteraram profundamente a sua dinâmica. A universalização das mídias digitais gerou uma diminuição dos ganhos obtidos com música gravada, migrando uma grande parcela dos ganhos auferidos pelos artistas para a música ao vivo, na forma de concertos e festivais.
Além do fluxo substancial de renda para os artistas e técnicos, a música ao vivo tem inúmeras externalidades positivas. Concertos e festivais contribuem para a renovação das áreas urbanas, levando ao aumento do turismo e impulsionando as economias locais. O setor também é reconhecido pelo fomento à inclusão social e proporciona grande potencial de geração de empregos.
No entanto, a realização de eventos de música ao vivo também traz várias consequências negativas. Para se ter uma ideia, de acordo com um estudo realizado pelo Professor Matt Brennan, da Universidade de Glasgow, a indústria da música produz aproximadamente 540.000 toneladas de emissões de gases de efeito estufa anualmente, o equivalente às emissões anuais de 60.000 famílias¹.
Fatores como o local do evento (permanente ou temporário), a utilização de rede elétrica, água e esgoto assim como a proximidade do local com o transporte público têm impactos importantes. Além isso, artistas e promotores raramente planejam suas turnês de forma a mitigar possíveis impactos ambientais gerados pelo transporte e montagem dos equipamentos e infraestrutura. Ademais, o setor é conhecido pela precarização da mão de obra utilizada, principalmente aquela menos qualificada. A inexistência ou desconhecimento de protocolos ambientais e sociais padronizados torna este ambiente ainda mais frágil.
Para enfrentar esses desafios, a indústria da música vem buscando formas de mitigar os impactos negativos da sua cadeia produtiva por meio de algumas ações concretas tais como a utilização de energia renovável nos equipamentos e espaços de espetáculo. Vários artistas já vêm aplicando o conceito do Green Touring para mitigar os impactos da atividade considerada a mais poluente da indústria da música ao vivo por meio de uso de biodiesel para os ônibus de turnê e investimento em compensações de carbono para neutralizar as emissões. Além disso, produzir álbuns e videoclipes visando a redução do desperdício com reciclagem e utilização de materiais ecológicos durante o processo de produção; e investir em inovação (equipamentos movidos a energia solar e estúdios de gravação sustentáveis) estão se tornando cada vez mais comuns.
Mas não são apenas os artistas que os responsáveis pelos impactos negativos da música ao vivo. Assim como toda atividade experiencial, um festival de música atrai um público enorme que por sua vez gera impactos muitas vezes atribuídos aos organizadores. Além de uma mudança comportamental durante os eventos para a redução dos danos causados, o público pode praticar a presença consciente optando por assistir a concertos realizados em locais sustentáveis ou apoiados por iniciativas ecológicas.
Artistas são frequentemente vistos como influenciadores, e suas ações podem ter um impacto profundo nos seus fãs. Ao liderar a luta pela sustentabilidade, eles inspiram seu público a fazer escolhas conscientes em suas próprias vidas. Ao adotar práticas sustentáveis, músicos, profissionais da indústria e fãs têm o poder de criar um futuro harmonioso e ambientalmente correto para a indústria da música e além.
¹Brennan, Matt. (2020) The environmental sustainability of the music industries. In: Oakley, K. and Banks, M. (eds.) Cultural Industries and the Environmental Crisis: New Approaches for Policy. Springer International Publishing, pp. 37-49.