No dia 8 de março comemoramos uma data emblemática para as pautas sociais: o Dia Internacional da Mulher. No entanto, o que deveria ser uma data de comemoração para todas as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, infelizmente se tornou um lembrete das enormes desigualdades que ainda existem entre os gêneros. Este ponto é particularmente importante para as pautas relacionadas ao ESG, pois a igualdade de gêneros está no centro das discussões ligadas ao Social e à Governança.
No mundo corporativo já foram obtidos grandes avanços na participação das mulheres nos conselhos de administração e diretorias, apesar de ainda estarmos longe da equidade entre os gêneros. Um efeito interessante desses avanços é a correlação direta entre a implantação de pautas ESG nas empresas brasileiras de capital aberto com diretorias com executivas mulheres, conforme estudo realizado por Monique Cardoso, da FGV-SP1.
Mas como se comportam os setores criativos, onde muitas iniciativas de negócios são iniciadas e fundadas por mulheres? De acordo com relatório “Empreendedorismo Criativo e Social no Brasil"2, 50% dos empreendimentos criativos tem mulheres em posições de liderança. No entanto, apesar de se apresentar como um domínio aberto e igualitário para todos os trabalhadores, a realidade nos setores criativos ainda mantém e reproduz a desigualdade de gênero. Na música, um relatório do ECAD – Mulheres na música3, publicado em 2023 aponta que as mulheres ainda são minoria no cenário musical. Por exemplo, dos 250 mil titulares de música identificados como pessoas físicas apenas 10% eram mulheres. Em outros setores, como o audiovisual, há uma notada ausência de mulheres em postos mais técnicos, para não falar sobre a quantidade ínfima de mulheres na direção. Infelizmente, assim como em outros setores criativos, a presença feminina muitas vezes se restringe a atividades tradicionalmente associadas às mulheres, menos valorizadas e mal remuneradas.
Como isto afeta a pauta ESG na economia criativa? As indústrias criativas apresentam-se como sendo um exemplo de domínio igualitário, tolerante e hostil a rígidos sistemas de separação4. De fato, são abundantes os projetos sociais que buscam contribuir para o aumento da autonomia e geração de renda de mulheres em situação de marginalização. No entanto, não há como fortalecer o senso de capacidade, autonomia e independência das mulheres que atuam nos setores criativos sem eliminar as barreiras para a inserção profissional, as diferenças salariais e as oportunidades de acesso à determinadas carreiras. Afinal de contas, a discriminação ainda é o principal obstáculo à progressão de carreira e ao exercício pleno da liderança por mulheres5.
1 CARDOSO, Monique. A Liderança Feminina Na Agenda Sustentável. Revista GV Executivo.2022. Disponível em https://periodicos.fgv.br/gvexecutivo/article/view/85511/80757
2 British Council. Empreendedorismo Criativo e Social no Brasil.2020. Disponível em https://www.britishcouncil.org.br/atividades/artes/economia-criativa/pesquisas/mapeamento
3 ECAD. Mulheres na Música 2023, Um Panorama sobre a presença feminina no mercado de execução publica de músicas no Brasil no ano de 2022.2023. Disponível em https://media4.ecad.org.br/wp-content/uploads/2023/03/Report-Ecad-Mulheres-na-Mu%CC%81sica-2023.pdf
4 SANTOS VIEIRA DE JESUS, Diego. “Prometo Reinventar Você”: Gênero E Poder Na Economia Criativa. Revista GÊNERO. Niterói. v.18.n.1.2. sem.2017
5 ADAMS, Renée B & KIRCHMAIER, Tom. Barriers to Boardroom. ECGI Working Paper Series in Finance. Working Paper N°. 347/2013 June 2015