A indústria audiovisual sempre desempenhou um papel crítico na formação da opinião pública por meio de conteúdos persuasivos e inspiradores, e por isso não é uma surpresa constatar que a sua estratégia ESG historicamente se concentrou na criação desses conteúdos¹. No entanto, não basta contar histórias de forma socialmente consciente. É necessário produzir conteúdos de forma sustentável.
A cadeia de produção de um filme gera enorme quantidade de resíduos causados, entre outros, pelo transporte de equipamentos, fabricação e lavagem de roupas, construção de cenários, catering para as equipes e tantas outras coisas que fazem parte do dia a dia de uma produção. De acordo com relatório publicado pelo BFI e o BAFTA do Reino Unido², um filme com um orçamento de US$ 70 milhões gera o equivalente a 2.840 toneladas métricas de dióxido de carbono, o que levaria cerca de 3.700 acres de florestas por ano para desfazer. Imagina então quão prejudiciais podem ser os grandes filmes com orçamentos de US$ 300 milhões ou mais?
A adoção de estratégias ESG que contribuam para o sucesso econômico e, ao mesmo tempo apoiem as metas de sustentabilidade tem estado nas pautas das empresas do setor audiovisual e dos governos locais que buscam vender suas cidades para a produção de filmes. Recentemente, o governo do Rio lançou edital de Incentivo à atração de produções Audiovisuais que escolherem o Rio de Janeiro como cenário³.
Produções cinematográficas trazem inúmeras externalidades positivas na forma de criação de empregos, arrecadação de impostos e projeção de imagem. No entanto os danos ao meio ambiente, especialmente em ecossistemas frágeis são um enorme risco que precisa ser levado em consideração. Quem não se lembra da destruição à Baia de Maya na Tailândia causada pelo fluxo maciço de turistas após do lançamento do filme “A Praia”?
De acordo com o Guia de Sustentabilidade para o Setor Audiovisual elaborado pela FIRJAN em parceria com a SICAV (4), quem busca diminuir o impacto ambiental pode reduzir de forma significativa os custos de uma produção audiovisual. Além disso, disseminar as práticas ESG entre produtores, artistas e técnicos ajuda a criar uma consciência sobre processos que se tornaram insustentáveis num mundo que exige uma atuação mais consciente nos âmbitos social e ambiental.
O que profissionais do setor podem fazer para mudar as práticas existentes?
Uma maneira é a adoção de práticas sustentáveis em todas as etapas de produção tais como:
• Reutilização de materiais de produção e compra responsável de materiais;
• Utilização de fontes de energia sustentáveis;
• Redução da demanda de água;
• Reaproveitamento de cenários e de instalações de estúdio;
• Inclusão de serviços de bem-estar para as equipes no set;
• Planejamento da produção utilizando ferramentas de colaboração, planejamento virtual e infraestrutura compartilhada;
• Criação de conteúdos que promovam estilos de vida sustentáveis e comportamentos ambientalmente conscientes por meio de documentários, filmes e programas de TV.
Além disso, essas empresas também podem investir em iniciativas ESG, tais como programas de reciclagem, redução de resíduos e apoio às comunidades locais. Isso pode incluir parcerias com organizações locais que se concentram na sustentabilidade ambiental, justiça social e desenvolvimento comunitário.
Organizações que produzem conteúdo audiovisual dependem fortemente de sua reputação para atrair e reter espectadores, anunciantes e investidores. Práticas sustentáveis contribuem para criar uma reputação de marca positiva e demonstram um compromisso com a responsabilidade ambiental e social.
¹NATU, A. Lights, Camera, Action on ESG! 14/04/23 Acessado em 06/11/23.
²BFI and Arup. A Screen New Deal A Route Map To Sustainable Film Production. 2021.
³PREFEITURA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO. Prefeitura investe mais de R$ 64 milhões no Programa de Fomento do Audiovisual Carioca 2023. 26/07/2023. Acessado em 06/11/23.
(4)FIRJAN; SICAV. Guia De Sustentabilidade Para O Setor Audiovisual. Set. 2023.