O conceito de sustentabilidade no mercado de eventos não é novidade no Brasil. Grande parte dos eventos já faz uso de métodos de produção que utilizam recursos de forma adequada, buscando a redução das emissões e atuando em prol da preservação da biodiversidade e da natureza. No caso dos aspectos socioculturais, existe a preocupação com tratamento dos impactos na comunidade local, assim como o respeito à diversidade, acessibilidade do público e inclusão de projetos culturais. Além disso, normas especificas, como a ABNT NBR – 20121, que regem as atividades do setor no quesito sustentabilidade já são utilizadas no Brasil desde 2012¹.
De forma geral, todas as questões ambientais e sociais relacionadas aos stakeholders externos, ou seja, o público, os patrocinadores e o local do evento estão bem consolidadas e são utilizados de forma extensa nas comunicações e no marketing pelos organizadores. Pode-se afirmar, portanto, que o setor já incorpora práticas sustentáveis nos seus processos de produção, principalmente em eventos de maior porte, visando minimizar os impactos ambientais e gerar benefícios sociais e financeiros para as partes interessadas e comunidades locais.
No entanto, existe uma questão que ainda necessita de discussão e que está relacionada à dinâmica peculiar do mercado de eventos. A maioria das atividades de produção é realizada por meio de uma estrutura de rede onde agências e promotores contratam produtos e serviços de uma variedade de fornecedores e utilizam uma força de trabalho terceirizada composta de produtores especializados e voluntários. A norma ABNT 20121/12 reconhece a importância desta rede quando determina que a gestão sustentável de eventos deve incluir todas as atividades e requisitos que dizem respeito aos fornecedores da cadeia produtiva².
Mas o modelo de trabalho que rege a relação desses atores ainda carece de uma visão mais saudável nas relações profissionais e humanas. Atualmente o modelo de negócios que permeia o setor de eventos ainda é regido por uma estrutura de desequilíbrio de poder entre as partes. As agências, na busca pela redução das perdas provocadas pela pandemia e pressionadas pelos clientes, rentabilizam em cima do elo mais fraco da cadeia de produção dos eventos – os produtores independentes. O alto nível de informalidade entre esses profissionais gera um ambiente onde nem todos são tratados de maneira profissional e respeitosa.
Se por um lado os eventos produzidos no Brasil estão na vanguarda da utilização de recursos de forma sustentável, por outro lado as empresas que produzem esses eventos ainda precisam avançar na agenda ESG. O sucesso de um evento depende diretamente das competências dos parceiros, profissionais independentes e prestadores que nele atuam, portanto não há como ser omisso com relação a abusos, assédio moral, baixa remuneração e condições de trabalho insalubres praticadas contra esse enorme contingente de pessoas.
O que pode ser feito para mudar essa situação? O primeiro passo é estabelecer um diálogo entre as partes afetadas para discutir as externalidades negativas da atividade de produção de eventos e construir juntos as possíveis soluções. Precisa haver uma conscientização dos organizadores de eventos sobre a importância de implementar práticas ESG nas suas organizações que incluam toda a cadeia de produção. Afinal de contas, não há como promover o crescimento econômico sustentado do setor de eventos sem que haja emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para todos.
¹ ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 20121:2012. Sistemas de gestão para sustentabilidade de eventos — Requisitos com orientações de uso. 2012
² ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 20121:2012. Sistemas de gestão para sustentabilidade de eventos — Requisitos com orientações de uso. 2012; Pág. 25, item 8.3-Gestão da Cadeia Produtiva.